Fim da reprovação até 3°ano: sociedade não aprova
O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares para o ensino fundamental de nove anos e uma das determinações do órgão é que todos os alunos devem ser plenamente alfabetizados até os 8 anos de idade. O que está causando dúvidas e até mesmo preocupação para os pais é o fato de o CNE recomendar “fortemente” que as escolas não reprovem os alunos até o 3º ano dessa etapa.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, já homologou o parecer, que foi publicado no Diário Oficial da União desta terça-feira (14). No texto, o ministro diz que a orientação é muito clara: todas as crianças têm o direito de aprender e as escolas devem assegurar todos os meios para que o letramento ocorra até os 8 anos de idade. Não quer dizer que se defenda a aprovação automática.
O texto ressalta ainda que cada criança tem um ritmo diferente no processo de aprendizagem, que, por isso, deve ser contínuo.
O Primeira Edição foi buscar opiniões para saber o que a sociedade pensa sobre a nova recomendação.
A professora Maria Célia da Conceição conta que o método já é usado pelas escolas estaduais e municipais de Alagoas, e que a não reprovação diminui a qualidade de aprendizado e os alunos saem da escola despreparados para o vestibular. “O que o Estado o Município visam é a quantidade de alunos que saem do ensino médio, e não a qualidade. Com certeza essa recomendação de não reprovar os alunos com dificuldade de aprendizado só ajuda a tornar a educação mais precária”, afirma a educadora.
“A gente vê alunos que não têm condições de avançar para o ensino médio, mas temos que aprová-los por causa desse sistema, e isso está diminuindo a qualidade do ensino. O método tradicional com certeza é mais eficaz, basta comparar o nível de aprendizagem das gerações”, disse Célia.
A psicóloga Gabriela Medeiros acredita que se as escolas e os educadores tivessem a mesma visão e métodos de ensino, seria mais fácil avaliar onde está o problema nos alunos com dificuldade de aprendizado. “É realmente uma situação complicada o incentivo à não reprovação dos alunos, porque a criança e o adolescente precisam de estímulo para que possam se engajar nos estudos. Mas também tem que avaliar os dois lados. Reprovar é algo muito difícil, porque mexe com a auto estima da criança. Mesmo assim, só teria sentido aprovar um aluno com dificuldade se a escola avaliar também o emocional dessa criança ou adolescente, e o professor da série seguinte teria o cuidado de avaliar realmente o aprendiz e desenvolver estratégias para que ele possa superar as dificuldades anteriores e continuar avançando", disse.
“O que acontece na maioria das vezes, é o aluno mudar de escola quando é reprovado, e daí muda-se de pensamento, a técnica de ensino, a abordagem, a estrutura do professor. Portanto eu acredito que não se deve avaliar apenas a reprovação em si, mas tem que ver a criança e o adolescente como um todo”, opina a psicóloga especialista em crianças.
Para a assistente administrativa, Edylane Pereira, de 27 anos, mãe de duas crianças em idade escolar, uma no 6º ano e outra Jardim II, a recomendação do ministro não vai mudar muito a atual realidade das escolas. “Eu estudei em escola pública há uns dez anos, e lembro que os alunos passavam sem muito esforço, porque os professores não queriam ter dor de cabeça e passavam trabalho para casa no fim do ano e dava nota de prova. Se antes já era assim, imagine hoje em dia, ainda mais com essa recomendação do ministro?”.
Para Edylane, o problema não está só nas escolas públicas. “Nas escolas privadas não deve ser diferente, porque, infelizmente, o dinheiro compra tudo. O que o ministro deveria fazer era exigir mais capacitação para os professores e incentivar a melhorar o ensino, e não piorar, porque na minha opinião está piorando”, disse.
“Sinceramente eu acho um absurdo incentivar as escolas a não reprovarem os alunos, pois as crianças não vão nem pensar em se esforçar para passar nas provas, e como é que vai ser no dia que precisarem passar no vestibular ou num concurso? Quer dizer então que meus filhos vão para a escola só para marcar presença?”, indaga a jovem mãe.
A jovem disse ainda que faz a sua parte, incentivando os filhos a estudar em casa. “Acredito que a educação começa dentro de casa e eu pego no pé e eles têm que estudar para as provas e passar com nota boa. Faço isso para o bem deles, pensando no futuro. Não quero que meus filhos saiam da escola sem ter aprendido nada”.
É preciso mesmo melhorar a qualidade de ensino, não só no Estado, mas no País. O que se vê nas escolas são muitos professores despreparados e alunos desinteressados, pelo menos na maioria. O fato de ser reprovado não torna a criança ou o adolescente pior que o outro, mas o prepara para enfrentar o mundo competitivo. E, finalmente, é preciso destacar que a educação mais importante é a adquirida em casa.
por Thayanne Magalhães
Fonte: primeira Edição
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