Angelica Bocca Rossi
Pedagoga – Pós-graduada em EaD
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Na edição on line do jornal o Globo de 12/09/2011 há uma publicação intitulada “Nivelamento exigiria mais dois anos de estudo”, na qual os autores do texto (Tatiana Farah e Sérgio Roxo), comentam a disparidade entre o ensino médio das escolas públicas e das escolas particulares e, ainda, mencionam o marketing que o Enem propicia para as particulares.[1]

Não há novidade nestes comentários, uma vez que o ensino particular preocupa-se em manter os alunos, fidelizando-os desde quando ingressam, alguns começam na educação infantil e só se desligam daquela escola quando vão para o Ensino Superior. Para isso, as escolas particulares, investem em capacitação dos docentes e em infraestrutura cada vez mais moderna e adequada ao aluno que recebe hoje, as gerações Y, Z e já estão se preparando para receberem a nova geração, a geração “ALFA”, que serão ainda mais competentes e preparados para com a preservação do meio ambiente.


Os equipamentos utilizados nas escolas particulares são os mais modernos e seus efeitos sobre o processo de ensino e aprendizagem são imediatamente notados. Mas não bastaria apenas investimento em equipamentos e materiais de ultima geração se não tivessem profissionais aptos a manuseá-los adequadamente, ou melhor, de forma a serem extraídos desses equipamentos os melhores resultados e, quem sabe, até novas formas de uso. Para que isso ocorra as escolas particulares investem com o mesmo empenho na capacitação dos profissionais que farão uso dos equipamentos e que tratarão de inserir os alunos nesta nova realidade, garantindo um aprendizado melhor e seu ingresso nas melhores universidades do país, tanto públicas como particulares, que possuam as vagas mais concorridas.

Mas não basta capacitar professores, equipar a escola, construir salas especiais, laboratórios, auditórios e promover eventos que demonstrem tudo isso, nem investir em Marketing, se não tiver uma política salarial adequada, um plano de carreira docente que promova os professores por estudos, produções, empenho e outras formas de incentivo.

Existem escolas de educação básica particular no Brasil cujo salário dos professores ultrapassam os 3 mil reais, assim, estes profissionais têm condições de refletir mais sobre sua prática, preparando aulas mais atraentes e com objetivos claros, preocupando-se em formar pesquisadores reflexivos, o que fará dos alunos candidatos mais bem preparados para os processos seletivos mais disputados do País. Estes docentes têm condições de fazer relatórios de suas aulas, refletir sobre elas, promover mudanças e novas práticas e metodologias mais adequadas para cada turma e, com isso, obter melhor desempenho nas avaliações, pois promoverá a educação para o pensamento, exatamente o que falta para os alunos nas escolas públicas (quero dizer em sua maioria, não generalizando). É claro que este resultado só poderia ser um grande Marketing para as escolas particulares.

Não basta transmitir conhecimentos, colaborar com o aprendizado, orientando e facilitando, é preciso participar da construção do conhecimento como parceiro, num processo de co-criação.

Então fica a pergunta: Se uma escola particular, que precisa batalhar diuturnamente para conquistar um aluno e depois preocupar-se constantemente com a fidelização deste mesmo aluno conquistado, que precisa investir fortemente em instalações, infraestrutura, equipes, prover bons salários e capacitação para professores, como consegue sobreviver, apesar de todas as dificuldades que o País impõe para as empresas? Por que as escolas públicas não conseguem obter Bons resultados nas provas do ENEM? Será que os professores da educação básica, especialmente os de ensino fundamental, são menos importantes que os docentes do ensino superior, para o poder público?

O ENEM vem apontando um grande fracasso no ensino público brasileiro, enquanto que o ensino particular está sempre se destacando entre as melhores escolas do país, que preparam os melhores alunos para as universidades públicas, sendo que o correto é não haver distinção de qualidade entre o público e o privado.
Os professores das escolas particulares têm sido mais incentivados, melhor preparados e mais bem remunerados. Enquanto que os professores das escolas públicas da Educação Básica não recebem capacitação adequada, haja vista as escolas que recebem crianças especiais e que não possuem profissional preparado. Os docentes do poder público deveriam ser mais bem preparados, receberem melhor remuneração e com jornada suficiente para ministrar aulas, preparar e avaliar aulas, refletir sobre sua prática, pesquisar e ainda participar de programas intensivos de capacitação.

Quanto ao ENEM, a sua maior medida de valor tem sido: averiguar, confirmar e divulgar os resultados já esperados e sabidos pelo povo brasileiro, que a educação básica pública não tem recebido a devida atenção e preocupação com a formação dos alunos e, tão pouco com a honra dos profissionais que a ela se dedicam.