Os estudantes seguem entrando no local cantando a música “Opinião”, de Zé Ketty, hino da resistência ao regime militar
O discurso intitulado “Continência a 1964”,
escrito e lido por um professor da faculdade de Direito da USP durante
uma aula, motivou protesto de estudantes do curso ontem. Um vídeo que
mostra o discurso e a consequente manifestação dos alunos foi
compartilhado por mais de 4.500 pessoas no Facebook em 12 horas. O vídeo
foi feito pela estudante Junia Lemos.
No vídeo, o professor Eduardo Gualazzi lê parte do
seu discurso ("A História informa que as tiranias vermelhas terminaram
afogadas num Holocausto de sangue e corrupção total") quando estudantes
começam a bater na porta da sala de aula e a gritar, simulando sons de
uma cena de tortura. Na sequência, os jovens entram na sala vestindo
capuzes negros sobre a cabeça. O professor, nervoso, tira o capuz de uma
das alunas e tenta segurar o braço de outro jovem.
Os estudantes seguem entrando no local cantando a
música “Opinião”, de Zé Ketty, hino da resistência ao regime militar.
Segundo a estudante do 3º ano do curso Camila Sátolo, 22, uma das
organizadores do ato, o professor já vinha anunciando aos alunos que
faria uma “aula especial” no aniversário de “50 anos da revolução”. “No
dia em que a gente está fazendo atos de memória pela resistência à
ditadura, não podemos deixar um professor falar sobre um regime que
infringiu os diretos humanos comprovadamente”, disse.
Camila Sátolo diz que o grupo que mobilizou os
estudantes, chamado coletivo Canto Geral, pretende entregar o discurso
do professor impresso em papel timbrado da faculdade e registrado em
cartório à comissão de ética da USP. A estudante Érica Meireles, 23,
participou do ato e repreende a atitude do professor. “Os estudantes
tinham que se organizar para mostrar uma opinião contrária. Ele não
poderia simplesmente entregar aquele material, referente a um período em
que a gente sabe que não havia um Estado democrático de direito”, diz.
Segundo as estudantes, o professor deixou a sala no meio do ato e não
voltou para continuar a aula.
A reportagem entrou em contato com a USP, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno.
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