Uma matéria para ler e refletir.
Em vez de
gastar tanto com escolas públicas e professores ausentes, é melhor transferir o
dinheiro direto para os pais e deixá-los escolher a escola particular que
preferem
Por: Leandro Narloch 07/12/2015 às 13:34
Fonte: Veja
O mais
intrigante na ocupação das escolas em São Paulo não é o personalismo dos
manifestantes e de seus apoiadores – que se alvoroçaram contra uma proposta de
separação de estudantes por faixa etária, mas ficaram bem quietinhos quando
Dilma cortou o orçamento do Fies, do Pronatec e do ProUni.
O pior é a
crença cega em “escolas públicas de qualidade”. Eles estão há um século rezando
e fazendo procissões para que a Escola Pública de Qualidade desça dos Céus à
Terra. Há um século seus pedidos dão em nada. No entanto, como seguidores de
uma seita fanática, não largam a fé.
Pois
deveriam. Escolas públicas, para darem certo, exigem boas pessoas. Políticos,
professores e diretores que pensem apenas no bem comum, e não nos seus próprios
interesses.
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Se uma
política pública exige que as pessoas se comportem como santos, pode acreditar:
não vai dar certo. As pessoas até são naturalmente benevolentes, mas não são
madres-teresas em tempo integral. O desenho de uma política precisa se basear
em pessoas reais, não em seres imaginários.
No sistema
atual, o cidadão que recebe o serviço não pode deixar de pagar por ele ou procurar
uma escola concorrente caso esteja insatisfeito. Os contribuintes são obrigados
a pagar pelo serviço mesmo que não gostem dele ou não o utilizem.
Já os
professores e diretores são remunerados por uma entidade distante – o Estado –
e não pelos clientes diretos. Sabem que não terão prejuízo se faltarem dezenas
de vezes por ano ou se os pais ficarem insatisfeitos. Não têm incentivo para
inovar, cortar custos, pensar em produtos diferentes. Podem se dar ao luxo de
fazer greves que duram um, dois, três meses. Se um aluno desistir de ir à
escola, isso é até uma boa notícia para o diretor, que terá um problema a menos
com que se preocupar.
E os
políticos que coordenam o serviço não precisam melhorar o sistema – apenas
fazer parecer, a cada quatro anos, durante a campanha eleitoral, que deram um
jeito nas escolas. Ou falar banalidades na televisão que toquem o público mais
que as banalidades dos candidatos concorrentes. É como se o síndico do prédio
fosse encarregado da educação dos filhos dos moradores. Uma loucura.
Com
incentivos assim, não dar certo é a regra. As notícias de jornal não deveriam
tratar de escolas que decepcionaram, mas dos raros casos em que o desempenho é
satisfatório. O mistério é descobrir por que algumas escolas públicas
funcionam, e não o contrário.
Os
manifestantes que ocuparam as escolas parecem acreditar que conseguirão
convencer todos os políticos, professores e diretores a agir apenas pelo bem
comum. Embriagados pelo protagonismo, gastam a voz em discursos morais sobre a
importância da educação e da necessidade de “cada um fazer a sua parte”, e
outros clichês.
Desculpem
cortar o barato, mas já passou da hora de desistir de escola pública de
qualidade. Se dependermos apenas de incentivos morais, e não de incentivos
financeiros, não vai dar certo. Não adianta mudar os políticos. Não
adianta gastar ainda mais em educação. É preciso mudar os incentivos.
Em vez de
gastar tanto em escolas ineficientes e professores que mais faltam do que
aparecem, é melhor transferir o dinheiro diretamente para a família de alunos
pobres, em forma de vales, ou pelo menos passar as escolas para gestores
privados.
Os pais (e
não uma autoridade) decidem qual linha pedagógica preferem e qual escola
escolherão para os filhos. As escolas passam a responder aos pais – e a
concorrer entre si por estudantes.
Já é assim
em muitos países. Nos Estados Unidos, as escolas charter (escolas
tocadas por ONGs ou associações comunitárias e bancadas com dinheiro público)
têm notas acima da média até mesmo quando estão em áreas pobres, que
historicamente decepcionam nos índices de escolaridade. Há 180 escolas assim em
Nova York; 6 mil nos Estados Unidos.
Um estudo
da Universidade Stanford mostra que 53%
dos alunos de escolas charter são pobres, contra 48% de
escolas públicas; e 29% são negros, contra 16% em escolas públicas. Estudantes
negros estudando em escolas charter leem, em média, 29 dias a
mais por ano e estudam matemática 36 dias por ano a mais que estudantes de
escolas públicas tradicionais.
Esse
modelo não é novidade no Brasil. O governo de Goiás já está criando um sistema
de escolas charter. O ProUni não é nada mais que privatização da
educação: em vez queimar dinheiro em universidades públicas perdulárias que
param em greve quase todo ano, melhor financiar bolsas de estudo em faculdades
privadas.
Essas
alternativas não são uma solução livre de falhas. É preciso evitar a “falácia
do nirvana”, segundo a qual há uma solução perfeita para todos os problemas do
mundo. No Chile, o sistema de voucher nem sempre incentiva a concorrência entre
escolas, porque os pais muitas vezes preferem escolas mais próximas de casa que
as melhores da cidade. E não se pode descartar a possibilidade de corrupção
entre os políticos e os gestores privados.
Além
disso, o sistema privado é diverso. Como hotéis ou marcas de biscoitos, há
escolas e faculdades privadas excelentes e picaretas. As melhores
universidades do mundo (Harvard, Yale, Stanford) são entidades privadas que
ganham uma boa dose de recursos públicos. Assim como uma penca de “uniesquinas”
de baixa qualidade.
Mesmo
assim, o sistema está está léguas à frente do padrão tradicional de escolas
públicas. Como podem receber doações privadas, as escolas charter americanas se
esforçam para manter a reputação e evitar reclamações. Algo que jamais passaria
pela cabeça da maioria dos diretores de escolas públicas brasileiras.
@lnarloch
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