Professores apontam falta de apoio da família como problema para aprendizagem dos alunos
Para 88% dos professores do 5º ano, a falta de acompanhamento da família prejudica o aprendizado
Da Redação do Todos pela Educação
Quase 90% (88,19%) dos professores do 5º ano do Ensino Fundamental afirmam que a principal causa dos problemas de aprendizagem dos alunos é a falta de assistência e acompanhamento da família, especialmente em situações como os deveres de casa e as pesquisas. Além disso, 80,98% dos docentes apontam também o desinteresse e falta de esforço do próprio estudante como um dos outros possíveis motivos.
Os dados são de um levantamento realizado pela área de Estudos e Pesquisas do Todos Pela Educação feito a pedido do jornal O Globo, a partir do questionário da Prova Brasil 2009. A avaliação, que ocorre de dois em dois anos em todo o País, além de medir o desempenho dos alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental em português e matemática, também tem questionários que são respondidos pelos alunos, professores e diretores das escolas.
A análise dos dados indica que os professores consideram as causas das dificuldades em relação a aprendizagem mais ligadas a fatores familiares, como meio em que vive o aluno (79,49%) e nível cultural dos pais (74,14%), do que aos aspectos ligados diretamente à escola, como carência de infraestrutura física ou pedagógica (28,01%).Já entre os fatores escolares, os mais apontados são os relacionados às condições de trabalho, como sobrecarga de tarefas (30,54%) e baixas remunerações (30,51%).
Os resultados completos podem ser observados na tabela abaixo:
Opinião dos professores sobre as causas dos problemas de aprendizagem (%) | |||
5º ano | |||
Fator | Concorda | Não concorda | Não resposta |
Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno | 88,19 | 5,81 | 6,00 |
Desinteresse e falta de esforço do aluno | 80,98 | 13,94 | 5,08 |
Meio em que vive o aluno | 79,49 | 13,98 | 6,53 |
Nível cultural dos pais dos alunos | 74,15 | 20,65 | 5,20 |
Baixa autoestima dos alunos | 65,10 | 28,76 | 6,14 |
Indisciplina dos alunos em sala de aula | 60,96 | 33,16 | 5,88 |
Falta de aptidão e habilidades do aluno | 43,11 | 51,47 | 5,41 |
Sobrecarga de trabalho dos professores, dificultando o planejamento e preparo das aulas | 30,54 | 63,15 | 6,31 |
Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente | 30,51 | 64,21 | 5,28 |
Carência de infra-estrutura física ou pedagógica da escola | 28,01 | 67,12 | 4,87 |
Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento das capacidades intelectuais do alunos | 27,45 | 67,11 | 5,44 |
Conteúdos curriculares inadequados às necessidades dos alunos | 19,63 | 74,00 | 6,37 |
Não cumprimento do conteúdo curricular | 13,75 | 80,72 | 5,54 |
Ambiente de insegurança física da escola | 11,96 | 82,27 | 5,77 |
Fonte: Prova Brasil 2009 - Questionário do Professor - Inep/MEC. Elaborado pelo Todos Pela Educação. |
No levantamento, os questionários em branco foram excluídos – o que não modificou as conclusões gerais. Mesmo após a retirada desses questionários, a taxa de não resposta dos professores do 9º ano permanece superior ao índice dos professores do 5º ano. Portanto, é preciso cuidado na análise dos dados do 9º ano, uma vez que, se essas respostas fossem recuperadas, alguns resultados poderiam mudar.
Opinião dos professores sobre as causas dos problemas de aprendizagem (%) | |||
9º ano | |||
Fator | Concorda | Não concorda | Não resposta |
Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno | 74,20 | 4,48 | 21,32 |
Desinteresse e falta de esforço do aluno | 72,98 | 6,34 | 20,68 |
Meio em que vive o aluno | 64,82 | 13,69 | 21,49 |
Nível cultural dos pais dos alunos | 59,36 | 19,87 | 20,77 |
Baixa autoestima dos alunos | 56,55 | 22,10 | 21,35 |
Indisciplina dos alunos em sala de aula | 56,06 | 22,65 | 21,29 |
Falta de aptidão e habilidades do aluno | 36,38 | 42,74 | 20,88 |
Sobrecarga de trabalho dos professores, dificultando o planejamento e preparo das aulas | 32,22 | 46,23 | 21,55 |
Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente | 31,08 | 48,07 | 20,85 |
Carência de infra-estrutura física ou pedagógica da escola | 24,81 | 54,82 | 20,37 |
Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento das capacidades intelectuais do alunos | 20,20 | 58,99 | 20,82 |
Conteúdos curriculares inadequados às necessidades dos alunos | 16,53 | 61,95 | 21,52 |
Não cumprimento do conteúdo curricular | 12,05 | 67,15 | 20,80 |
Ambiente de insegurança física da escola | 10,27 | 68,53 | 21,20 |
Fonte: Prova Brasil 2009 - Questionário do Professor - Inep/MEC. Elaborado pelo Todos Pela Educação. |
Para a diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, essa percepção dos docentes – que relaciona as circunstâncias familiares às dificuldades dos alunos na escola – é ruim. “Educação é corresponsabilidade.”afirma. Ela também aponta os baixos níveis de renda dos familiares como pontos que devem ser analisados na hora de avaliar a aprendizagem. “Muitos não têm estímulo nem livros em casa e isso os professores percebem, o que é correto. Mas a Educação deve ser uma política compensatória e a escola deve suprir aquilo que o aluno não teve em casa”, lembra ela.
Ela ressalta que hoje o esforço dos estudantes não é valorizado. “Atualmente, não existe uma cultura do esforço, que destaque o empenho do aluno. As famílias precisam cobrar o estudo dos filhos, olhar a lição de casa, observar a frequência escolar e acompanhar a situação das crianças de perto”, explica.
Possíveis soluções
Para Priscila, a escola deve descobrir uma nova abordagem para envolver os pais. “Não tem uma fórmula única, porque cada escola tem sua identidade própria. Mas deve haver mais diálogo. Uma possibilidade é intensificar o calendário de festividades, por exemplo. Nessas ocasiões, há muitos encontros, os pais conversam mais, trocam, entram em contato”, afirma. “Temos que lembrar também que o modelo de família hoje é diferente de 50 anos atrás. Muitas estão desestruturadas, algumas não têm o pai presente, as mães trabalham... a família mudou muito.”
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