Tudo continua muito dependente de professores disponíveis para
trabalharem com os alunos informação sobre sexualidade como essencial na
educação para a saúde. Artigo de José Lopes
A educação sexual nas escolas ainda continua a ser matéria nem sempre
consensual nas comunidades escolares. Num país com um significativo
número de adolescentes grávidas por ano, a Escola Pública durante muitos
anos fez deste tema um tabu e, apesar das orientações legislativas mais
recentes assumirem a educação sexual com caráter obrigatório em todos
os estabelecimentos do ensino básico e secundário da rede pública, ao
não assumir uma área curricular obrigatória, com equipas de docentes
responsáveis em exclusividade com a devida formação em educação sexual,
tudo continua muito dependente de professores disponíveis para
trabalharem com os alunos informação sobre sexualidade como essencial na
educação para a saúde, com vista a uma vida saudável e à necessidade de
os jovens adquirirem e desenvolverem competências nesta área.
Independentemente das polémicas, muitas vezes influenciadas por algum
fundamentalismo sobre que papel e grau de competências deverão caber no
campo da educação sexual entre a Escola e a Família, a valorização da
sexualidade e afetividade entre as pessoas no desenvolvimento
individual, respeitando o pluralismo das conceções existentes na
sociedade portuguesa, está consagrada em lei que estabelece a aplicação
da educação sexual nas escolas do ensino básico e secundário. Entre as
várias finalidades, que lamentavelmente muitas comunidades educativas
pouco contribuíram para estimular, apoiar e concretizar em meio escolar,
está o desenvolvimento de competências nos jovens, que permitam
escolhas informadas e seguras no campo da sexualidade, assim como a
melhoria dos relacionamentos afetivo – sexuais dos jovens. Assim, a
educação sexual nas escolas só podia contribuir de facto para reduzir as
consequências negativas dos comportamentos sexuais de risco, tais como a
gravidez não desejada.
Valorizar uma sexualidade responsável e informada. Promover igualdade
entre os sexos ou educar para o respeito pela diferença entre as pessoas
e pelas diferentes orientações sexuais, não pode continuar apenas no
espírito da lei, negando às gerações de jovens alunos que vão passando
pelo ensino básico, o acesso a uma efetiva educação sexual, sem que os
diferentes elementos das comunidades educativas se continuem a refugiar
em argumentos pseudo éticos ou profissionais, que só promovem a
desresponsabilização do ministério da educação neste capítulo já
demasiado desvalorizado no tempo.
Ainda que com inclusão obrigatória nos projetos educativos dos
agrupamentos de escolas, segundo a lei, nos moldes definidos pelos
respetivos conselhos pedagógicos com parecer dos conselhos gerais,
ouvidas as associações de estudantes, as associações de pais e os
professores que integram estes órgãos de gestão. Tudo está muito longe
de tal espírito democrático participativo. Que experiências existem do
previsto projeto de educação sexual na turma, que devem ser elaborados
no início do ano escolar? Que equipas interdisciplinares de educação
para a saúde e educação sexual estão a assumir as suas competências?
Nomeadamente, gerir o gabinete de informação e apoio ao aluno. Assegurar
a aplicação dos conteúdos curriculares ou promover o envolvimento da
comunidade educativa.
Com o espírito da lei da educação sexual a ser objetivamente
descaraterizada, acabou por ser integrada por lei na educação para a
saúde, com o argumento de obedecer ao mesmo conceito de abordagem com
vista à promoção da saúde física, psicológica e social. A orientação
para a organização funcional da educação sexual nas escolas, passou
então, por incluir nos projetos educativos a área da educação para a
saúde, combinando a transversalidade disciplinar com inclusão temática
na área curricular não disciplinar.
Lamentavelmente as comunidades educativas continuam demasiado alheadas
da importância da valorização do tema da educação sexual em meio
escolar, o que só favorece as correntes moralistas que resistem ao
decisivo papel da Escola na promoção de competências para que os jovens
façam escolhas informadas e seguras no campo da sexualidade, melhorando
os relacionamentos afetivos e sexuais. Abordagens da vida real que os
jovens alunos mostram interesse em fazer e aprofundar, assim hajam
espaços adequados e sem tabus desde logo na Escola Pública.
Fonte: José Lopes (Ovar)-Esquerda.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário