Aposentadorias, salários abaixo do mercado aquecido e
mortes levaram a UFRJ a perder 456 professores, entre 2009 e fevereiro. O
número corresponde a 12% do quadro atual da universidade, uma das
maiores, mais tradicionais e antigas do País. A falta de concursos
agrava a situação e deixa muitas faculdades com déficit de docentes,
substituídos precariamente por temporários, principalmente na Graduação.
Apesar do mercado aquecido em algumas áreas – como Engenharia, Direito e Medicina –, o principal fator para a saída em massa de professores da federal é a aposentadoria. Levantamento da universidade mostra que, nos últimos quatro anos, 310 docentes (68% dos 456) se aposentaram. E há problema pela frente: ao menos mais 300 já podem fazer se aposentar a qualquer momento. Segundo o pró-reitor de Pessoal da UFRJ, Roberto Gambine, em dezembro de 2012, havia 2.211 servidores recebendo “abonos de permanência”, entre professores e técnicos, e muitos outros continuam a ser feitos. Trata-se de quando o servidor deixa de deduzir a contribuição previdenciária, por já ter completado o tempo exigido.
“É uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento. Hoje temos a dimensão do que representam praticamente dez anos sem concursos, nos anos 90”, admite Gambine, técnico administrativo da universidade há 27 anos, responsável pela área de docentes. Ele lembra que a onda de aposentadorias tem relação com a entrada de um grande número de professores em concursos logo após a Constituição de 1988, que completa 25 anos em 2013. Até a crise econômica internacional afetou a UFRJ, porque o governo restringiu os concursos que poderiam repor os professores.
Na Faculdade de Medicina do Fundão, uma das mais tradicionais do País, quase 50 se aposentaram nos últimos quatro anos, com grande repercussão no curso de seis anos, com 7.200 horas de aulas, internato e residência.
Mercado aquecido x salários incompatíveis com a qualificação
Se a aposentadoria em grande escala é o principal problema, a UFRJ tem visto cada vez mais profissionais trocarem a academia por empregos com melhor remuneração, principalmente em mercados como a Engenharia, devido ao boom do Pré-Sal e das grandes obras de infraestrutura, e o Direito, onde concursos públicos pagam salários muito superiores aos da UFRJ. Desde 2009, 104 (23% dos 456) pediram exoneração porque encontraram opção de trabalho mais atraente – outros 19 (4%) foram transferidos para outra universidade e 23 (5%) morreram.
“Esse grande número de exonerações é uma indicação de que o salário não é compatível com a qualificação dos professores. Houve concursados aprovados que desistiram antes de tomar posse porque tiveram propostas do setor com remuneração superior. Comparativamente com a população brasileira, não é um mau salário, mas o salário é inferior ao que oferece qualquer empresa multinacional para alguém com esse nível de qualificação. Achataram o salário em comparação com outras carreiras governamentais do mesmo nível”, afirmou Maria Antonieta Peixoto Gimenes Couto, que preside a câmara do Conselho de Ensino e Educação que distribui os substitutos.
Como comparação, um concurso para juiz substituto do Tribunal de Justiça do Rio, de julho de 2012, pagava inicial de R$ 20.677,85 e benefícios. Esse salário é 50% superior ao de professor titular da UFRJ, cargo mais alto da carreira acadêmica, muitas vezes após 20 anos e dedicação exclusiva de 40 horas semanais. Por ordem descrescente, pela tabela federal, sempre tendo o doutorado como requisito, o professor associado recebe R$ 12.613; o adjunto, R$ 8.618; o auxiliar (para quem não é exigido mestrado) entra recebendo R$ 3.594,57, valor que chega a R$ 5.500 com mestrado e R$ 8.050, com doutorado.
Uma solução adotada na Universidade, diante da falta de concursos definitivos, desde 2009, foi a contratação de substitutos, por um ano, renovável por mais um. A Medicina já conta com 24 deles e até a prestigiada Coppe está pedindo. Porém também esses ganham pouco, não criam laços institucionais nem fazem pesquisa. “É um improviso. Se arrumam um emprego melhor, abandonam a turma, não há um compromisso maior”, afirma Maria Antonieta.
O iG mostrou os problemas estruturais e a dificuldade da UFRJ em Macaé para contratar substitutos. Sua faculdade de Medicina, que chegou a fechar, aceitava professores sem exigir nem mesmo residência , especialização mínima dos médicos. Além do impasse para encontrar docentes, a Medicina e a Engenharia penam com a falta de infraestrutura básica, para atuar nos padrões mínimos de excelência da UFRJ.
“Macaé vai ter dificuldade. Lá passa carro com alto-falante anunciando emprego para Engenharia. Conseguir professor de Engenharia para a faculdade será um problema”, afirmou Maria Antonieta, que preside a câmara do Conselho de Ensino e Educação que distribui os substitutos. De acordo com Roberto Gambine, a questão de Macaé é mais complexa ainda porque se trata de um campus isolado, fora da capital fluminense, o que torna mais difícil fixar o servidor.
Salário inferior ao da Polícia Rodoviária Federal
“O professor universitário está com o salário muito defasado. Tem 12 anos de formação e ganha menos que policial rodoviário federal! [Edital de concurso para a PRF prevê salário inicial de R$ 6.106,81. Em funções mais avançadas, chega a R$ 10.544]. Ser professor só dá status para consulta médica. O médico dá dois plantões e ganha o que receberia em um mês”, disse a pró-reitora de Graduação Ângela Rocha.
“Ficamos por amor à academia. Se fosse por salário... Não foi por falta de proposta...”, lamentou Maria Antonieta, para quem, entretanto, a carreira tem prestígio e a vantagem de gozar de grande liberdade em pesquisa e de “estar à frente na inovação”, sem depender da grande indústria. “É um ambiente muito bom, não corporativo, onde se está preocupado com o mercado, o lucro.”
Gambine concorda. Para ele, “a universidade é uma instituição diferente, atraente, por sua natureza dinâmica, ativa, renovada semestralmente. Acho que ainda exerce forte atração, ainda que tenhamos todos esses problemas.”
Um novo concurso já foi lançado, com 310 vagas para professor-assistente, e Roberto Gambine prevê que em setembro, os primeiros selecionados já tomem posse, se a burocracia universitária funcionar bem. Há ainda a perspectiva de mais 150 vagas, por conta das aposentadorias, mortes e evasão. Caberá aos colegiados da universidade discutir o destino dessas vagas.
Fonte: iG Rio de Janeiro
Apesar do mercado aquecido em algumas áreas – como Engenharia, Direito e Medicina –, o principal fator para a saída em massa de professores da federal é a aposentadoria. Levantamento da universidade mostra que, nos últimos quatro anos, 310 docentes (68% dos 456) se aposentaram. E há problema pela frente: ao menos mais 300 já podem fazer se aposentar a qualquer momento. Segundo o pró-reitor de Pessoal da UFRJ, Roberto Gambine, em dezembro de 2012, havia 2.211 servidores recebendo “abonos de permanência”, entre professores e técnicos, e muitos outros continuam a ser feitos. Trata-se de quando o servidor deixa de deduzir a contribuição previdenciária, por já ter completado o tempo exigido.
“É uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento. Hoje temos a dimensão do que representam praticamente dez anos sem concursos, nos anos 90”, admite Gambine, técnico administrativo da universidade há 27 anos, responsável pela área de docentes. Ele lembra que a onda de aposentadorias tem relação com a entrada de um grande número de professores em concursos logo após a Constituição de 1988, que completa 25 anos em 2013. Até a crise econômica internacional afetou a UFRJ, porque o governo restringiu os concursos que poderiam repor os professores.
Na Faculdade de Medicina do Fundão, uma das mais tradicionais do País, quase 50 se aposentaram nos últimos quatro anos, com grande repercussão no curso de seis anos, com 7.200 horas de aulas, internato e residência.
Mercado aquecido x salários incompatíveis com a qualificação
Se a aposentadoria em grande escala é o principal problema, a UFRJ tem visto cada vez mais profissionais trocarem a academia por empregos com melhor remuneração, principalmente em mercados como a Engenharia, devido ao boom do Pré-Sal e das grandes obras de infraestrutura, e o Direito, onde concursos públicos pagam salários muito superiores aos da UFRJ. Desde 2009, 104 (23% dos 456) pediram exoneração porque encontraram opção de trabalho mais atraente – outros 19 (4%) foram transferidos para outra universidade e 23 (5%) morreram.
“Esse grande número de exonerações é uma indicação de que o salário não é compatível com a qualificação dos professores. Houve concursados aprovados que desistiram antes de tomar posse porque tiveram propostas do setor com remuneração superior. Comparativamente com a população brasileira, não é um mau salário, mas o salário é inferior ao que oferece qualquer empresa multinacional para alguém com esse nível de qualificação. Achataram o salário em comparação com outras carreiras governamentais do mesmo nível”, afirmou Maria Antonieta Peixoto Gimenes Couto, que preside a câmara do Conselho de Ensino e Educação que distribui os substitutos.
Como comparação, um concurso para juiz substituto do Tribunal de Justiça do Rio, de julho de 2012, pagava inicial de R$ 20.677,85 e benefícios. Esse salário é 50% superior ao de professor titular da UFRJ, cargo mais alto da carreira acadêmica, muitas vezes após 20 anos e dedicação exclusiva de 40 horas semanais. Por ordem descrescente, pela tabela federal, sempre tendo o doutorado como requisito, o professor associado recebe R$ 12.613; o adjunto, R$ 8.618; o auxiliar (para quem não é exigido mestrado) entra recebendo R$ 3.594,57, valor que chega a R$ 5.500 com mestrado e R$ 8.050, com doutorado.
Uma solução adotada na Universidade, diante da falta de concursos definitivos, desde 2009, foi a contratação de substitutos, por um ano, renovável por mais um. A Medicina já conta com 24 deles e até a prestigiada Coppe está pedindo. Porém também esses ganham pouco, não criam laços institucionais nem fazem pesquisa. “É um improviso. Se arrumam um emprego melhor, abandonam a turma, não há um compromisso maior”, afirma Maria Antonieta.
O iG mostrou os problemas estruturais e a dificuldade da UFRJ em Macaé para contratar substitutos. Sua faculdade de Medicina, que chegou a fechar, aceitava professores sem exigir nem mesmo residência , especialização mínima dos médicos. Além do impasse para encontrar docentes, a Medicina e a Engenharia penam com a falta de infraestrutura básica, para atuar nos padrões mínimos de excelência da UFRJ.
“Macaé vai ter dificuldade. Lá passa carro com alto-falante anunciando emprego para Engenharia. Conseguir professor de Engenharia para a faculdade será um problema”, afirmou Maria Antonieta, que preside a câmara do Conselho de Ensino e Educação que distribui os substitutos. De acordo com Roberto Gambine, a questão de Macaé é mais complexa ainda porque se trata de um campus isolado, fora da capital fluminense, o que torna mais difícil fixar o servidor.
Salário inferior ao da Polícia Rodoviária Federal
“O professor universitário está com o salário muito defasado. Tem 12 anos de formação e ganha menos que policial rodoviário federal! [Edital de concurso para a PRF prevê salário inicial de R$ 6.106,81. Em funções mais avançadas, chega a R$ 10.544]. Ser professor só dá status para consulta médica. O médico dá dois plantões e ganha o que receberia em um mês”, disse a pró-reitora de Graduação Ângela Rocha.
“Ficamos por amor à academia. Se fosse por salário... Não foi por falta de proposta...”, lamentou Maria Antonieta, para quem, entretanto, a carreira tem prestígio e a vantagem de gozar de grande liberdade em pesquisa e de “estar à frente na inovação”, sem depender da grande indústria. “É um ambiente muito bom, não corporativo, onde se está preocupado com o mercado, o lucro.”
Gambine concorda. Para ele, “a universidade é uma instituição diferente, atraente, por sua natureza dinâmica, ativa, renovada semestralmente. Acho que ainda exerce forte atração, ainda que tenhamos todos esses problemas.”
Um novo concurso já foi lançado, com 310 vagas para professor-assistente, e Roberto Gambine prevê que em setembro, os primeiros selecionados já tomem posse, se a burocracia universitária funcionar bem. Há ainda a perspectiva de mais 150 vagas, por conta das aposentadorias, mortes e evasão. Caberá aos colegiados da universidade discutir o destino dessas vagas.
Fonte: iG Rio de Janeiro
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